Na moral?

Novo programa de Pedro Bial foi comprometido devido a reflexões superficiais.

Antes de qualquer tipo de imprensa, os espaços públicos eram as esferas de debate. Cafés, bares, restaurantes reuniam grupos de intelectuais que trocavam ideias a partir de várias correntes de pensamento. Com o surgimento das várias mídias e a possibilidade de grande difusão da informação, o conhecimento ficou concentrado nas mãos de quem as possuía,  trazendo, dessa forma, certo comodismo aos cidadãos que antes se uniam dispostos a discutir e argumentar sobre assuntos gerais.

Poucos minutos antes de  “Na Moral” começar, estava dizendo ao meu pai que o assistiria, pois sentia falta de programas que fomentassem debates, reflexões, coisa não muito comum em emissoras privadas como a Rede Globo, em que o jornalismo perde sua função social para se tornar um mero produto industrial. Seria também uma nova chance ao apresentador Pedro Bial mostrar, de fato, a que veio. Apesar de sua seriedade ter sido comprometida devido sua participação nas edições do BBB, é inegável que o jornalista tem o dom da oratória e talvez seja um dos poucos que adote o cronismo como forma de narrativa televisiva. No entanto, tive minhas expectativas frustradas.

A primeira edição do programa contou com a presença do jornalista  Antônio Carlos Queiroz, do professor Luiz Felipe Pondé, da humorista global Maria Paula e do cantor Alexandre Pires para debater o tema “politicamente correto”, que tinha como premissa inicial levantar questões sobre modos de expressão popular que costumam gerar polêmica em seu uso diário. Afinal, é racismo chamar um negro de “crioulo” ou não? Infelizmente, questões como essa ficaram comprometidas devido a pouca argumentação dos convidados que, devido ao pouco espaço de tempo, não conseguiam concluir suas linhas de pensamento.

Uma matéria publicada hoje no Jornal do Brasil afirma que “a curta duração de exibição (pouco mais de 30 minutos) comprometerá qualquer tentativa de detalhamento do que está sendo colocado ‘na roda'”, concordo em partes. É verdade que, quanto menor o tempo de duração de uma reflexão, menor o seu aprofundamento, contudo, outros fatores tiveram influência: participação (ao meu ver, desnecessária) de convidados relatando suas histórias no palco – o que fez parecer os típicos programas da tarde, em que a polêmica em si tem mais espaço do que o próprio debate. E claro, não poderia esquecer da ilustre presença de homens fantasiados de gorilas e poposudas dançando um “hit” de Alexandre Pires no meio do auditório.

Ficou a dúvida sobre a proposta do programa, que pareceu se perder meio a necessidade das massas: o mero entretenimento. “Na Moral”, um programa que tinha tudo para ser um petisco aos neurônios, e por hora, apenas mais um petisco aos olhos.

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