Mês: julho 2012

Nunca pensei que escreveria sobre a morte

Nunca pensei que escreveria sobre a morte. Quer dizer, como jornalista, é óbvio que frequentemente estaria relatando a perda de pessoas desconhecidas (de preferência de modo bem frio e sensacionalista como a mídia costuma fazer em sua faceta mais nauseante), descrevendo passo a passo dos últimos momentos de uma vida, resumidos em uma página fria de jornal que seria usada para embrulhar o peixe estragado de uma feira qualquer ou limpar algum traseiro, na falta de papel higiênico.

Ontem perdi um caro amigo. Christian. Estudou comigo no colegial e fez parte da melhor época da minha vida. Assassinato. Quando soube, a primeira reação que tive foi a revolta. Como poderia um simples bandido, desprovido de qualquer senso e amor pela vida, um Zé Ninguém tirar a vida de uma pessoa que mal começá-la? O Chris não tinha nem seus vinte anos, poxa. Depois veio a impotência. Comecei a observar as muitas reações das pessoas que o amavam, vi parte delas organizando até uma passeata contra a violência, mas a verdade é que nada disso pode trazê-lo de volta. É bobagem acreditar que algum senso de justiça preencha o vazio que um ente querido pode deixar.

Eu não sei como é a morte. Pra falar a verdade, nunca tinha pensado sobre ela. Via pessoas próximas morrerem ao meu redor, mas ninguém que fosse da minha idade. É estranho. Me senti da mesma forma quando tinha 12 anos. Eu era a única a não ter dado o primeiro beijo e ficava inquieta com o fato de minhas amigas já terem experimentado algo que eu nunca havia feito. Eu sei que, assim como o Chris, um dia eu terei meu encontro – e quem sabe até o primeiro beijo – com a morte. Mas ainda estou a pensar nela.

Acho que a morte é o início não só de uma vida que se findou, mas da vida que ficou. Porque, apesar de tudo, a morte de alguém marca o início de uma série de pensamentos, reflexões, voltas ao tempo necessárias para o amadurecimento de qualquer ser humano. A morte do Chris me fez voltar no tempo em que eu ainda usava uniforme, chorava escondida no banheiro, tinha aparelho nos dentes e era a garota mais altiva do universo. Me fez ter saudade de pessoas que não estão mais presentes, mas estão aí fora pulsando seus corações e arrancando sorrisos de outras pessoas. Mais do que nunca, estou louca para revê-las.

Ainda acredito que a vida das pessoas fala por elas mesmas. O legado é uma forma de vida e me parece ser quantificado na mesma proporção que a saudade. Eu estou com saudade do Chris. Estou com saudade dos velhos tempos, das antigas amizades. Da antiga Juliana (que ainda vive dentro de mim, altiva e escondida em algum lugar – talvez chorando em algum banheiro de escola).

“O que significa perda, se torna sinônimo de volta a si próprio”.
(Lou Salomé).

Na moral?

Novo programa de Pedro Bial foi comprometido devido a reflexões superficiais.

Antes de qualquer tipo de imprensa, os espaços públicos eram as esferas de debate. Cafés, bares, restaurantes reuniam grupos de intelectuais que trocavam ideias a partir de várias correntes de pensamento. Com o surgimento das várias mídias e a possibilidade de grande difusão da informação, o conhecimento ficou concentrado nas mãos de quem as possuía,  trazendo, dessa forma, certo comodismo aos cidadãos que antes se uniam dispostos a discutir e argumentar sobre assuntos gerais.

Poucos minutos antes de  “Na Moral” começar, estava dizendo ao meu pai que o assistiria, pois sentia falta de programas que fomentassem debates, reflexões, coisa não muito comum em emissoras privadas como a Rede Globo, em que o jornalismo perde sua função social para se tornar um mero produto industrial. Seria também uma nova chance ao apresentador Pedro Bial mostrar, de fato, a que veio. Apesar de sua seriedade ter sido comprometida devido sua participação nas edições do BBB, é inegável que o jornalista tem o dom da oratória e talvez seja um dos poucos que adote o cronismo como forma de narrativa televisiva. No entanto, tive minhas expectativas frustradas.

A primeira edição do programa contou com a presença do jornalista  Antônio Carlos Queiroz, do professor Luiz Felipe Pondé, da humorista global Maria Paula e do cantor Alexandre Pires para debater o tema “politicamente correto”, que tinha como premissa inicial levantar questões sobre modos de expressão popular que costumam gerar polêmica em seu uso diário. Afinal, é racismo chamar um negro de “crioulo” ou não? Infelizmente, questões como essa ficaram comprometidas devido a pouca argumentação dos convidados que, devido ao pouco espaço de tempo, não conseguiam concluir suas linhas de pensamento.

Uma matéria publicada hoje no Jornal do Brasil afirma que “a curta duração de exibição (pouco mais de 30 minutos) comprometerá qualquer tentativa de detalhamento do que está sendo colocado ‘na roda'”, concordo em partes. É verdade que, quanto menor o tempo de duração de uma reflexão, menor o seu aprofundamento, contudo, outros fatores tiveram influência: participação (ao meu ver, desnecessária) de convidados relatando suas histórias no palco – o que fez parecer os típicos programas da tarde, em que a polêmica em si tem mais espaço do que o próprio debate. E claro, não poderia esquecer da ilustre presença de homens fantasiados de gorilas e poposudas dançando um “hit” de Alexandre Pires no meio do auditório.

Ficou a dúvida sobre a proposta do programa, que pareceu se perder meio a necessidade das massas: o mero entretenimento. “Na Moral”, um programa que tinha tudo para ser um petisco aos neurônios, e por hora, apenas mais um petisco aos olhos.